BAILARINA
Quero apoiar-me no parapeito da janela
Fazer pontas de bailarina e levar a ideia avante.
Desequilibrar um pé que se torce sobre si mesmo
Arrancando a cal do ponto onde peso
E de seguida, por solidariedade, vai o outro também
De suave movimento e de alívio, que grita.
Há ali uma estrela que deve olhar para mim.
Não sei se me vai dar valor enquanto plano
Sobre as imagens que tenho e sobre a pouca parede
Que fará parte das minhas mais recentes memórias.
E eu só queria poder dizer tudo.
Só queria que me compreendesses. Mas não tento.
Eu posso, mas não consigo. Estás tão alto.
É isso um pedestal, onde estás? Que mais ninguém vê
Senão eu? O pedestal onde toda a gente me julga um dia
Mas que eu não vejo? Ah porque é que eu tenho dois corações?
Porque é que te sinto duas vezes
Quando tu não me sentes nenhuma?
Não tento.
É noite, não me estou a sentir bem,
Sinto-me tonto, agoniado, tenho dores de não sei onde.
É porque me deito. É porque é à noite que me lembro
Mais de ti. A culpa é desta posição, horizontal.
É porque os pés estão mais altos que a cabeça.
É porque o sangue dos meus corações se aproxima do cérebro.
Como um rio, como algo que corre indiferente, como se fosse normal.
É quando me deito que me lembro de ti.
Preciso acordar mas não estou a dormir.
Quero que o rio desça e não desagúe em ideias.
Mas a tua imagem é nítida, é colorida e tem sorrisos.
Tantos sorrisos. A tua imagem é linda e é sublime e é clara.
Atraente.
E eu nunca vou estar lá.
Quero apoiar-me no parapeito da janela
Fazer pontas de bailarina e levar a ideia avante.
1 comment:
só te digo que adorei....
brutal....
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