Tuesday, November 20, 2007
TERRAÇO
(Embala-me, chuva)
Não consegui adormecer.
Senti receio. Senti-me estranho.
Alterei a luz ao espaço
Mas não vi nada diferente.
E depois, só depois me apercebi
Que a chuva que ouvia era mais ali.
Sim, era chuva.
Mas no meu quarto. No meu espaço.
Chovia na minha cama.
Chovia em mim...
Explica-me como.
Como houve tanta tempestade em ti
para me teres ao teu lado,
E agora ser em mim que a chuva cai!
Serão simbólicos os dias cinzentos que se mostram
Desde o dia em que te foste?
Assim como as pingas que me gelam a cama?
Leito molhado mas não de ti,
Gelado como quem lhe falta quem se ama?
Moeda estranha esta,
Que parece ter mais que dois lados.
A minha cara, a tua coroa
E um terceiro, inesperado...
Luta na tua batalha que é mais antiga,
Que eu nem sei se a nossa começou.
Pois.
É engraçado como
Nunca te cheguei a perguntar se querias namorar comigo.
...
Mas desta vez, mais alto,
Vou reconstruir o meu terraço.
Depois, bem lá em cima,
Seco a cama, os lençois
E seco-me a mim.
Tuesday, November 13, 2007
Gotas de Alma
... a estrear algures no inicio do ano.
Que hajam muitos...
(Crítica ao concerto de Telheiras: http://www.clubepf.blogspot.com/)
"G. and the Storytellers
Fique o pessoal a saber que, quem ontem não esteve ao fim da tarde no parque de Telheiras, perdeu uma excelente oportunidade de conhecer um projecto musical de refinado bom gosto e de passar uma boa hora de interessante experiência espiritual (cultura é sobretudo espírito, não é?).
G. and the Storytellers começa por ser um nome engraçado e quase original (já houve G. Love and the Special Sauce) para uma ideia, um desígnio cultural, em que todos parece poderem sair a ganhar. É claro que Gonçalo Abrantes, o compositor e líder vocal, é a referência central, aliás brilhante, do som mostrado. Só que o seu potencial estético precisa da força multi-instrumental que o Simão Martins e o João Francisco lhe podem trazer, assim diminuindo o risco de se tornar um puro projecto romântico, zona perigosa, pela ameaça de banalidade, que o Gonçalo quase ultrapassa quando está nas suas baladas a solo.
Se a experiência decisiva que fica é ouvir a magnífica voz do Gonçalo (é verdade que com evidentes pontos de contacto com a voz universalmente admirada, por maravilhosa, de Antony), que é uma boa revelação escutar alguns dos seus belos arranjos e a sua inegável capacidade composicional, interessa-nos também testemunhar que os dois ex-Skizz estão já num registo de outra maturidade, idealmente ambos a caminho de ainda melhor, ao partilharem a condução criativa do projecto, trazendo-o talvez para um registo mais rítmico, mais Pop e menos crooner, para utilizar um palavrão de gíria. Não faltam referências úteis para uma possível inspiração do som futuro. Ocorrem-me quatro: Pulp, Blur, Prefab Sprout e Dead Combo.
Mas que o som que já existe é bonito, sedutor e fortemente encorajador, lá isso é!"