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Tuesday, January 16, 2007

BAILARINA

Quero apoiar-me no parapeito da janela

Fazer pontas de bailarina e levar a ideia avante.

Desequilibrar um pé que se torce sobre si mesmo

Arrancando a cal do ponto onde peso

E de seguida, por solidariedade, vai o outro também

De suave movimento e de alívio, que grita.


Há ali uma estrela que deve olhar para mim.

Não sei se me vai dar valor enquanto plano

Sobre as imagens que tenho e sobre a pouca parede

Que fará parte das minhas mais recentes memórias.

E eu só queria poder dizer tudo.

Só queria que me compreendesses. Mas não tento.


Eu posso, mas não consigo. Estás tão alto.

É isso um pedestal, onde estás? Que mais ninguém vê

Senão eu? O pedestal onde toda a gente me julga um dia

Mas que eu não vejo? Ah porque é que eu tenho dois corações?

Porque é que te sinto duas vezes

Quando tu não me sentes nenhuma?


Não tento.


É noite, não me estou a sentir bem,

Sinto-me tonto, agoniado, tenho dores de não sei onde.

É porque me deito. É porque é à noite que me lembro

Mais de ti. A culpa é desta posição, horizontal.

É porque os pés estão mais altos que a cabeça.

É porque o sangue dos meus corações se aproxima do cérebro.


Como um rio, como algo que corre indiferente, como se fosse normal.

É quando me deito que me lembro de ti.

Preciso acordar mas não estou a dormir.

Quero que o rio desça e não desagúe em ideias.

Mas a tua imagem é nítida, é colorida e tem sorrisos.

Tantos sorrisos. A tua imagem é linda e é sublime e é clara.

Atraente.


E eu nunca vou estar lá.


Quero apoiar-me no parapeito da janela

Fazer pontas de bailarina e levar a ideia avante.

1 comment:

JM said...

só te digo que adorei....

brutal....